quinta-feira, 17 de setembro de 2015



Material selecionado pelo irmão Ricardo Moreira para estudo em Loja realizado em 15.09.15.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sobre a morte

Pergunta: Que relação a morte tem com a vida?

Krishnamurti: Existe divisão entre a vida e a morte?  Por que vemos a morte como algo separado da vida?  Por que temos tanto medo da morte?  Por que há tantos livros sobre a morte?  Essa separação que fazemos entre a vida e a morte é real, ou uma invenção, um produto da mente?

Quando falamos em vida, falamos de um processo de continuidade no qual há identificação.  Eu e minha casa, eu e minha mulher, eu e minha conta bancária, eu e minhas experiências passadas, é isso que entendemos por vida, não é?  Viver é um processo de continuidade na memória consciente e também na inconsciente, com suas várias lutas, disputas, experiências, seus incidentes, e assim por diante.  É isso que chamamos de vida, cujo oposto é a morte, que põe um fim a todas essas coisas.  Tendo criado o oposto, que é a morte, e tendo medo dela e, continuamos a procurar o relacionamento entre a vida e a morte e, se podemos fechar a brecha com uma explicação, com a crença em uma continuidade no além, ficamos satisfeitos. Acreditamos em reencarnação ou em alguma forma de continuidade, então tentamos estabelecer um relacionamento entre o conhecido e o desconhecido.  Tentamos associar o conhecido ao desconhecido, procurando encontrar o relacionamento entre o passado e o futuro.  É isso que estamos fazendo, quando perguntamos se há algum relacionamento entre a vida e a morte, não é?  Queremos saber como construir uma ponte entre a vida e o fim, esse é o nosso maior desejo.

Pode o fim, que é a morte, ser conhecido enquanto vivemos?  Se pudermos saber o que é a morte enquanto estamos vivos, não teremos problema algum. É por não podermos experimentar o desconhecido enquanto estamos vivos que temos medo dele.  Nossa luta tem como finalidade estabelecer um relacionamento entre nós, pois somos o resultado do conhecido, e ao desconhecido chamamos de morte.  Pode haver um relacionamento entre o passado e algo que a mente não pode conceber, aquilo que chamamos de morte?  Por que separamos os dois?  Não será porque nossa mente só pode funcionar no campo do conhecido, do que é contínuo?  Nós só nos conhecemos como pensadores, seres que funcionam com certas lembranças de sofrimento, prazer, amor, afeição, de vários tipos de experiência, só nos conhecemos como sendo contínuos, do contrário não nos lembraríamos de nós mesmos como sendo alguma coisa.  Quando essa alguma coisa chega ao fim, à morte, há o medo do desconhecido, de maneira que queremos puxar o desconhecido para o conhecido, e todo o nosso esforço é para dar continuidade ao desconhecido, isto é, não queremos conhecer a vida, que inclui a morte, queremos saber como continuar, como nunca chegar ao fim.

Aquilo que continua não passa por renovação. Não pode haver nada novo, nada criativo, naquilo que tem continuação, isso é perfeitamente óbvio.  Só quando acaba a continuidade é que se torna possível existir aquilo que é sempre novo.  Mas é esse fim que tememos, e não queremos ver que é apenas por meio do fim que pode haver renovação, que pode haver o criativo, o desconhecido, e não por experiências e lembranças que continuamos carregando dia após dia.  É quando morremos a cada dia para tudo o que é velho que pode haver o novo.  Não pode haver o novo onde há continuidade; o novo é criativo, o desconhecido, o eterno, Deus, o que você preferir.  A pessoa, a entidade contínua que procura o desconhecido, o real, o eterno, nunca o encontrará, porque pode encontrar apenas aquilo que projeta para fora de si mesma, e aquilo que projeta não é o real.  O novo pode ser conhecido somente no fim, na morte, e o homem que busca descobrir um relacionamento entre a vida e a morte, que deseja junta o contínuo com o que ele acha que está além, vive em um mundo irreal que é uma projeção de si mesmo.

Será possível morrermos enquanto vivos, no sentido de chegarmos a um fim, nos tornarmos nada?  Será possível para nós, vivendo neste mundo, em que tudo está se transformando cada vez mais, ou cada vez menos, em que tudo é um processo de escalar, alcançar, ter sucesso, será possível, em tal mundo, conhecermos a morte?  Será possível acabarmos com a lembrança, não a lembrança de fatos, como o caminho de volta para casa, mas aquela por meio da qual nos apegamos à segurança psicológica?  Será possível apagarmos as lembranças que acumulamos, armazenamos, nas quais buscamos segurança e felicidade?  Será possível pôr um fim a tudo isso, o que significa morrermos todos os dias, para que possa haver uma renovação no dia seguinte?  Essa é a única maneira de conhecermos a morte enquanto vivos.  É nessa morte, nesse fim de continuidade, que há renovação; essa criação que é eterna.

KRISHNAMURTI, J.  A primeira e última liberdade, pp. 276-278, Nova Era, Rio de Janeiro.

Texto selecionado pela irmã Hilda Garcia para estudo em Loja realizado em 15.09.15.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Christopher Hitchens: A Morte e o Momento Presente



Se você quer se sentir espantosamente inspirado (Christopher Hitchens) 

Se vocês quiserem se sentir espantosamente inspirados senhoras e senhores, deixe-me dizer, deixe-me apenas lhes contar para aqueles de nós que não acreditamos que somos divinamente criados, muito menos divinamente supervisionados, não estamos imunes à idéia de espanto e beleza e do transcendente.

Deixe-me convidá-los a olhar por um momento para as fotos tiradas pelo telescópio espacial Hubble. Alguns de vocês já viram, se não viram ainda, vejam logo. As extraordinárias revelações das rodopiantes, mas de certa forma, lindas e novas galáxias, em cores, profundidade e majestade igual a nada, penso eu, que um olho humano jamais viu. Rejeitem isso se vocês desejarem. Vejam um arbusto em chamas em alguma parte deserta e analfabeta do Oriente Médio e me digam que é daí que vem a revelação. Não acredito que sejam capazes de fazê-lo. Ou leiam uma página de Stephen Hawking sobre a absoluta magnificência e consistência na beleza subjacente, como Einstein disse “O grande milagre da física é que não existem milagres”.

Ela continua carregando tudo junto com o tempo. Não há interrupções em sua ordem. Não há suspensões da física só para agradar Josué ou só para agradar alguma seita, tribo ou grupo. Não. É muito, muito muito mais impressionante que isso.

Hawking tem um colega que observou o horizonte de evento de um buraco negro. Se você pudesse viajar em direção a um buraco negro, ainda não é impossivel fazer, mas se você pudesse, em teoria, o horizonte de evento é o ponto no qual um buraco negro está atraindo tudo para dentro dele mesmo. Assim, passando pelo buraco negro vai a própria luz. Ele é tão forte que pode atrair a luz para dentro de si mesmo. É realmente espantosamente inspirado. É muito mais, digamos, que um bando de porcos infestados de demônios correndo colina abaixo até o mar, como um artigo de bruxaria e um tipo de truque barato. Isto não deve impressionar nehuma pessoa pensante.

Pensem em um buraco negro em vez disso atraindo a luz para si mesmo, o horizonte de evento tão somente reorganizando a natureza. De modo que se você pudesse chegar até a borda do horizonte de evento e cair, entrar nele, você em teoria poderia ver o passado e o futuro esticando atrás e diante de você. Você veria o tempo, exceto que você não teria tempo para isso. É claro que se você fosse um mero primata como nós somos. Mas Hawking tem um colega que diz que se ele soubesse que estivesse morrendo de uma doença terminal é assim que ele queria ir, passando pela borda do horizonte de evento. Isto seria majestade. Isto seria magnificência. Isto seria espantosamente inspirador. Isto seria apocalíptico.

Assim como é no mundo natural, como é no mundo da ciência, no mundo da inovação, da descoberta e da dúvida, não seríamos capazes de descobrir nenhuma dessas coisas, se tívéssemos tomado a estória religiosa como certa para começar. Nós teríamos tido que nós já sabemos o suficiente. Nós sabemos! Deus fez assim, Deus quer dessa maneira!

Por que a necessidade de perguntar? Nós já temos toda a informação que precisamos. A grande diferença entre este lado da mesa, o meu lado, e o outro, é esta. Estou absolutamente certo que talvez eu não saiba mas que talvez possa ser possível descobrir. E que a dúvida, o ceticismo e a inovação e investigação são os únicos meios pelos quais a maravilha e a beleza, o espanto e a simetria serão descobertos.

E além destes picos, nós ainda poderemos ver novos picos maravilhosos que se elevarão. Ao passo que no outro lado da mesa foi dito que nós já temos a certeza. Nós sabemos que Deus nos criou. E nós mesmos alegamos conhecer a sua mente e o que ele quer de nós. Eu tão somente os convido a abrir suas mentes para a possibilidade de que o cético, o questionador e o duvidoso serão melhores do que qualquer coisa que chama a si própria de fé. Porque qualquer coisa que chama a si própria de fé chama a si própria de certeza. E para certeza eu acho que não há lugar em um instituto de pensamento intelectual e de educação mais elevada. Eu fico muito agradecido a vocês por me concederem a chance de dizer isso. Obrigado.


Material selecionado pelo irmão Roberto C. Paula para estudo em Loja realizado em 08.09.15.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

Sam Harris: A Morte e o Momento Presente



Transcrição do vídeo [00:00:00]

Muito obrigado.
É maravilhoso estar aqui.
É um grande prazer ter a chance de encontrar pessoalmente...
Pode arrumar o retorno do meu áudio aqui?
É uma grande satisfação encontrar muitos de vocês na platéia.
Nem sempre eu tenho uma chance disso acontecer. 
Não preciso dizer que é uma grande honra poder dividir o palco com o Dan, com o Richard, com a Aayann, com o Lawrence e com tantas outras pessoas extraordinárias.
Eu gostaria de aproveitar esse momento, como muitas pessoas já fizeram, para reconhecer o vazio deixado pela morte do nosso amigo Hitch.
Talvez possamos imaginar o que ele teria pensado a respeito dos diversos tópicos levantados aqui.
É quase impossível imaginar como ele teria expressado esses pensamentos.
Era um homem com mais sagacidade, estilo e conteúdo do que qualquer civilização que eu possa citar.
Então, não há o que fazer, senão aproveitar esse momento, e reconhecer a sua falta.
Na verdade, hoje eu quero falar sobre a morte.
Aliás, eu havia planejado falar sobre o livre arbítrio.
Já escrevi um livro sobre o assunto, inclusive o dediquei ao Hitch.
Uma ideia que me ocorreu é que muitos de vocês já devem ter visto esse livro ou assistido o vídeo no YouTube com a palestra que dei sobre isso, que chegou à internet há mais ou menos uma semana.
Então, eu decidi... Eu recomendo a vocês fazer uma dessas duas coisas, porque eu acho que o livre- arbítrio é um assunto importante.
Eu acho que as pessoas são potencialmente confusas sobre isso e também acho que essa confusão é extremamente relevante.
Mas eu decidi mudar o viés e falar sobre a morte, que talvez seja o único assunto que as pessoas acham mais deprimente do que a idéia de não possuir livre-arbítrio.
Meu objetivo aparente é deprimir vocês, não por livre-arbítrio próprio ou pelo lugar de onde falo.
Eu espero poder reanimar vocês no decorrer da palestra.
A realidade da morte é absolutamente central para a religião, tanto quanto a negação da morte é central para a religião.
Sem a morte, a religião baseada na fé seria impensável.
Do ponto de vista daqueles que têm fé, o ateísmo parece ser uma mera afirmação da morte.
Na verdade, parece que nós somos um culto à morte, porque somos as únicas pessoas que admitem que a morte é real.
A maior parte das opiniões ou toda opinião deixa a questão em aberto ou afirma que a morte é uma ilusão, e que as pessoas boas, ou as pessoas que acreditam nas coisas certas sobre um deus guerreiro da Idade do Ferro, elas conseguem tudo o que querem depois que morrem e então tudo o que parecia  anormal, indesejável ou meramente acidental nesta vida se resolve no final.
Uma convenção como esta é, de fato, uma declaração aberta e muito especial de que não existe qualquer probabilidade razoável de nada disso acontecer.
A boa nova do ateísmo, o evangelho do ateísmo, é essencialmente o “nada”, ou seja, nada acontece após a morte.
Não há nada para se preocupar, não há nada a temer.
Quando você morre, você volta ao “nada” que você era antes de nascer.
Essa proposição é muito difícil de entender e a maioria das pessoas parecem confundir o “nada” com “alguma coisa”.
Muitos dizem que o meu amigo Lawrence Krauss faz isso.
No caso da morte, parece que as pessoas pensam…
Elas imaginam que a morte é algo como uma eternidade de escuridão silenciosa, o que parece, de fato,  um pouco entediante.
Mas se nós estamos certos e se nada acontece após a morte, então, toda religião  inventada até hoje é falsa.
Mas se nós estamos certos e se nada acontece após a morte, a morte, portanto, não é o problema.
A vida é que é o problema.
O problema é que, sem Deus e sem uma promessa de existência eterna após a morte, a vida parece ser uma emergência.
É uma emergência de longa duração para muitos de nós, mas é uma emergência.
Você não pode deixar de notar que as coisas estão dando muito errado nesse lugar.
Não importa o quanto você esteja se divertindo, basta uma olhada no jornal para ver que não é possível ter divertimento algum, e parece que todos estamos numa maré de azar no final das contas.
É difícil não ver o absurdo da situação.
Você desembala o seu iPad novinho em folha, com o qual você espera poder desperdiçar uma quantidade enorme de tempo e atenção, e descobre, talvez até usando o próprio iPad, que as pessoas que construíram esse fascinante dispositivo  levam uma vida de trabalho tão penoso e insuportável que regularmente elas se atiram dos telhados das fábricas onde trabalham, redes foram instaladas para aparar a queda dos corpos.
Será que faz algum sentido haver disparidades e sortes desse tipo?
A religião é que dá sentido a isso.
″É o meu karma″.
 ″É da vontade de Deus que eu tenha tanta sorte″.
″Se Deus quisesse de mim fazer um trabalho tedioso, perigoso e mortal para ganhar alguns dólares por dia, seria exatamente isso o que eu estaria fazendo″. 
″Mas acontece que Ele quer que eu tenha um novo IPad.″
″Aleluia!″
Não acreditar em Deus é não recorrer a essas ilusões.
Não acreditar em Deus é saber que cabe a nós tornar o mundo um lugar melhor.
Nós mal emergimos de séculos de barbárie.
Não é nenhuma surpresa que existam desigualdades alarmantes neste mundo.
É tarefa difícil descer das árvores, andar ereto e construir uma civilização global e viável, se você já começa com uma tecnologia que se faz com pedras, galhos e peles. Isso é um projeto e o progresso é difícil.
Basta só imaginar que você está voltando cem gerações dentro da própria família.
Basta só imaginar isso numa espécie de mapa aberto nesta sala, talvez nesta fila da frente, considerando cem pessoas: o pai do pai, a mãe do pai, o pai do pai da mãe e assim por diante.
Eu não me importo se você é culto ou de uma família de boa educação.
Você pode ser o Matthew Chapman, tataraneto do Charles Darwin.
Mas se você continuar seguindo, em menos de cem relatos, você vai encontrar alguém que pensa que sacrificar o primogênito pode ser, de fato, uma boa maneira de controlar o clima.
É assim que...
Alguns de vocês provavelmente não precisam ir tão longe.
Só precisam ir para casa para passar o Natal.
O progresso real é um fenômeno muito recente.
Como vocês sabem, a religião em geral mantém o pé no freio.
Nos Estados Unidos, ainda precisamos debater sobre a anticoncepção, se as mulheres devem ter acesso ao controle da natalidade.
Esqueçam o aborto.
A anticoncepção ainda é algo pelo qual estamos lutando.
A Igreja Católica, uma das instituições mais ricas do planeta, irá se opor à anticoncepção até o último suspiro, e ao fazer isso, ela imagina estar exercendo uma moralidade calibrada com a maior precisão que a Terra jamais viu, o tempo todo alimentando um exército de estupradores de crianças, os protegendo da justiça secular, os transferindo de paróquia para paróquia para que possam encontrar novas vítimas, ameaçando essas vítimas com litígios intermináveis nesta vida e com o fogo do inferno na próxima.
O mau uso da energia humana, essa fabricação inútil de infelicidade, só confunde a mente.
O progresso moral e político é difícil, mesmo nas nações ricas, onde deveria haver nada além de progresso.
A maioria de nós sabe que, não importa o quanto progredirmos, é muito improvável que faremos deste mundo um paraíso.
Nós não iremos verdadeiramente torná-lo invulnerável ao insulto, à agressão e à morte.
É verdade que existem algumas pessoas sérias que pensam que podemos curar todas as doenças, inclusive o envelhecimento, ou fazer upload das nossas consciências numa espécie aprimorada de A.I., Inteligência Artificial.
Eu acho que quando olhamos de perto esses esforços, começa a parecer que a ciência ajuda a religião nesse ponto.
Eu não sei...
Eu tenho certeza que aqui temos aficionados por singularidade, mas eu não espero fazer back-up da minha consciência no iPad 25.
Eu ficarei feliz se provarem que eu estou errado, mas não tenho essa ilusão. [10:16:00]

Sam Harris: A Morte e o Momento Presente

Transcrição do vídeo [10:18:00]

Eu penso que é seguro dizer que a realidade da morte é algo que todos iremos enfrentar, assim como a perda daqueles que amamos.
Não há um processo de aperfeiçoamento neste lugar, mesmo que você jogue o jogo com perfeição e que você se torne tão saudável quanto um vampiro, mesmo se você viver tempo suficiente, você vai testemunhar a morte de todos aqueles a quem você ama.
Em dado momento, o telefone vai começar a tocar e lá vem a má notícia!
Mesmo as nossas memórias são precárias.
Minha filha tem três anos e meio, eu fico espantado de perceber o quanto da vida dela eu já esqueci.
É só vê-la num vídeo feito há um ano, para você ficar espantado de ver como isso é estranho. Ela é uma pessoa completamente diferente agora.
Não existe uma maneira satisfatória de nos prendermos ao passado.
Na verdade, quando olhamos de perto, também não existe maneira insatisfatória de fazê-lo.
Estamos presos no momento presente.
A memória é um pensamento que surge no presente.
Estamos presos no momento presente com os nossos pensamentos e os nossos iPads!
O que o ateísmo tem a oferecer às pessoas nessas circunstâncias, às pessoas como nós, às pessoas mais medrosas e mais auto-iludidas do que nós, a esse grande corpo da humanidade que recua ante a mera sugestão de que um carpinteiro do século um pode não ser capaz de ouvir seus pensamentos, muito menos atender as suas preces?
O ateísmo como mera descrença em Deus não tem muito a oferecer.
É um corretivo para todo um conjunto de más idéias, mas ele não coloca nada no lugar das más ideias.
É um corretivo necessário, mas o que preenche o vazio é a ciência, a arte e a filosofia.
O ateísmo é apenas uma maneira de abrir espaço para uma conversa melhor.
O problema que enfrentamos, naturalmente, é um problema de exigir e convencer grande parte da humanidade a ter essa conversa melhor e isso é um problema político.
É um problema científico, é um problema interpessoal, é um problema da educação.
Mas o problema é que a maioria das pessoas na maioria das vezes está desesperada e quer acreditar em idéias ridículas e separatistas, evidentemente por razões emocionais, enquanto, de modo raramente explícito, o que realmente lhes preocupa é a morte.
Quando nós estamos debatendo sobre ensinar a evolução nas escolas, eu diria que nós estamos realmente debatendo sobre a morte.
Parece que essa é única razão para qualquer pessoa religiosa se preocupar com a evolução.
Porque se seus livros sagrados estão errados sobre nossas origens, muito provavelmente estão errados sobre o nosso destino após a morte.
Quando você diz a alguém:  “Você é um tolo por não acreditar na evolução” ou “Você é um tolo por pensar que o universo tem seis mil anos, eu acho isso pode ser traduzido como:  “Você é um tolo porque você pensa que a sua filha que morreu num acidente de carro está realmente no céu com Deus.  Essa é uma mensagem muito diferente.
Antes de eu chegar ao final desta frase, algo imprevisível e terrível irá acontecer com alguém em algum lugar e nós vamos ler sobre isso no jornal amanhã.
A questão é como pode uma pessoa prestes a sofrer uma tragédia dar-lhe um sentido?
A religião fornece resposta para isso.
É uma resposta injustificada, é uma resposta ruim, é uma resposta que vem com muitas outras responsabilidades, porque um ser fez nascer tantas respostas conflitantes e irreconciliáveis, portanto, o conflito religioso e o tribalismo político parecem algo impossível de ser superado.
Mas a religião realmente fornece uma resposta que a maioria das pessoas acha que precisa.
E o cisma entre os secularistas, o fato de que muitas pessoas nesta conferência são regularmente atacadas por criticarem a religião, continua a partir desse ponto.
As pessoas estão preocupadas com o sofrimento das outras pessoas.
Os cientistas e os jornalistas que fizeram carreira, atacando os chamados novos ateus estão preocupados com o sofrimento das outras pessoas.
Quando a sua filha morre num acidente de carro, acreditar que agora ela está no céu com Jesus tem que ser consolador, tem que ser consolador de tal maneira que nenhuma outra crença possa ser.
É verdade que há um lado sombrio nesse tipo de pensamento.
Eu conheço pessoas que sofreram tragédias como essa, no contexto da sua fé  elas descobriram que a crença numa vida após a morte era, na verdade, uma maneira para que os seus amigos não se conectassem com a sua dor e, de fato, isso  as prejudicou muito nessa circunstância.
Isso equivale a...
É um pouco embaraçoso... É um sinal de que você não tem fé.
O que está fazendo você sofrer realmente?
Se você acha que a pessoa que você mais ama neste mundo agora está num lugar melhor e você vai voltar a juntar-se a ela num piscar de olhos... Eu acho que podemos admitir que o ateísmo não oferece um verdadeiro consolo nesse ponto.
E isso não é uma coincidência.
Quando você está aberto a uma nova evidência, não há garantia de que as reformulações da sua visão do mundo serão consoladoras.
Quando você perde o Papai Noel, o que você recebe no lugar dele não é tão divertido.
A imagem dos seus pais estourando o limite do cartão de crédito e embrulhando presentes no pijama não é tão consoladora como a visão dos elfos no trenó e das oito renas voadoras.
Quando nós pensamos no que perdemos, quando abandonamos a religião, não é o feriado, nem a arquitetura, a música, a humildade, a reverência ou a profundidade. Tudo isso nós podemos manter dentro de uma visão muito pura da razão, e podemos manter sem mentir para nós mesmos, para os nossos filhos, para as outras pessoas e seus filhos, acerca da natureza da realidade.
Aquilo que nós perdemos, para o qual não existe substituto real, é o pleno consolo em face da morte.
Parece que queremos construir uma ponte para um mundo racional para que grande parte da humanidade possa cruzá-la.
Nós temos que lidar com esse fato.
A maioria de nós faz todo o possível para não pensar na morte.
Mas há sempre uma parte da nossa mente que sabe que não podemos continuar para sempre.
Uma parte de nós sempre sabe que basta estar a um passo de uma consulta médica ou de um telefonema para lembrarmos nitidamente o fato da nossa própria mortalidade ou daqueles mais próximos de nós.
Eu tenho certeza que muitos de vocês nesta sala já experimentaram isso de alguma forma. Vocês devem saber como é estranho de repente você se retirar da sua rotina normal de vida e ter que se dedicar integralmente a não morrer ou a cuidar de alguém que esteja morrendo.
Hitch escreveu brilhantemente sobre isso na Vanity Fair. Eu sugiro que vocês leiam os artigos dele se ainda não leram.
Mas a única coisa que as pessoas tendem a perceber em momentos como esse é que elas desperdiçaram muito tempo, quando a vida era normal.
Não é só o que elas fizeram com o tempo delas.
Não é só porque elas passaram muito tempo trabalhando ou compulsivamente checando e-mails.
É porque elas se preocuparam com as coisas erradas.
Elas se arrependem daquilo com que se preocuparam.
A atenção delas estava presa a preocupações mesquinhas, ano após ano, quando a vida era normal.
Isso é um paradoxo, naturalmente, porque todos nós sabemos que essa epifania vai chegar.
Você não sabe que isso vai chegar?
Você não sabe que vai chegar um dia em que você vai adoecer ou alguém próximo a você vai morrer e você vai olhar para trás, para tudo aquilo que prendeu sua atenção e vai pensar "O que eu estava fazendo? ".
Você sabe disso, mas você é como a maioria das pessoas e passa a maior parte da sua vida tacitamente presumindo que viverá para sempre, assistindo um filme ruim pela quarta vez ou brigando com o seu parceiro.
Essas coisas só fazem sentido à luz da eternidade.
É melhor que haja o céu, se vamos desperdiçar o nosso tempo assim.  [20:14:00]

Sam Harris: A Morte e o Momento Presente

Transcrição do vídeo [20:16:00]

Ao contrário das pessoas religiosas, nós, ateus, realmente temos um bom motivo para aproveitar a vida ao máximo, aproveitar o momento presente ao máximo, porque, mesmo que você viva até cem anos, não são tantos dias de vida assim.
Então, qual é o sentido da vida?
Será que ela é algo sagrado?
Será que essa questão ainda faz sentido?
É isso que preocupa as pessoas religiosas.
Eu acho que essas questões realmente fazem sentido e existe resposta para isso, mas a resposta não é uma questão de conseguir mais informação.
A resposta é mudança de atitude.
Existem maneiras de se experimentar a vida como algo sagrado, sem se acreditar em coisa alguma, certamente sem se acreditar em coisa alguma sem prova suficiente. Existem maneiras de realmente se viver no momento presente.
Qual é a alternativa?
Ela é sempre o agora.
Por mais que você sinta que precisa fazer planos para o futuro, antecipá-lo para reduzir riscos, a realidade da sua vida é o agora.
Isso pode parecer idiotice.
Pode parecer algo perigosamente próximo do que o Dan chamou de ″deepity″ na palestra dele. Mas é a verdade.
Isso não é verdade como uma questão de física. De fato, não existe nenhum ″agora″ que abrange todo o universo.
Não se pode falar de um evento ocorrendo aqui simultaneamente com outro evento no mesmo instante em Andrômeda.
A verdade é que o ″agora″ nem sequer é bem definido como uma questão de neurologia, porque sabemos que os inputs para o cérebro chegam em diferentes momentos e que a consciência é construída sobre camadas de inputs cujos tempos precisam ser diferentes.  Pense na sensação de tocar seu nariz com o dedo.
Ela parece ser simultânea como uma questão de experiência consciente. Mas nós sabemos que para viajar do dedo ao córtex sensorial deve levar mais tempo que do do nariz ao córtex sensorial, o que é verdade, por mais que seu braço seja curto e seu nariz, comprido.
O cérebro armazena esses inputs de alguma forma na memória e então provoca uma aparente simultaneidade para a consciência, e assim, a atenção consciente para com o momento presente já é, em certo sentido e com relevância, uma memória.
Mas, como uma questão de experiência consciente, a realidade da sua vida é sempre o ″agora″.
Eu acho que isso é uma verdade libertadora sobre a natureza da mente humana.
De fato, eu acho que provavelmente não existe nada mais importante do que isso para você entender a sua mente, se você quer ser feliz neste mundo.
O passado é uma memória, é um pensamento que surge no presente.
O futuro é meramente uma antecipação, é outro pensamento que surge agora.
O que nós temos realmente é este momento e só.
Nós passamos a maior parte da vida esquecendo essa verdade, repudiando-a,   afastando-a, fazendo vista grossa, e o que é pior é que nós conseguimos!
A gente consegue nunca se conectar com o momento presente e encontra satisfação nisso, porque fica sempre esperando ser feliz num futuro e esse futuro nunca chega.
Mesmo quando pensamos que estamos no momento presente, estamos, de forma muito sutil, sempre olhando além dele, antecipando o que vem a seguir.
Estamos sempre resolvendo um problema.
É possível você simplesmente se desligar do problema, por um momento que seja, e desfrutar de tudo o que é verdadeiro na sua vida no presente.
Ora, mais uma vez, como você pode ver, a linha que separa a sabedoria atemporal da banalidade é um pouco difícil de se encontrar.
Eu estou um pouco preocupado porque alguns de vocês começaram a calar com esse meu aparente blá-blá-blá de ″nova era″, mas saibam que eu não quero ficar diante de quatro mil ateus, causando boa impressão como um Lao-Tzé.
Se eu vou falar sobre esse ponto crucial, eu preciso realmente dizer algumas coisas que vocês provavelmente já ouviram antes e provavelmente rejeitaram, porque isso veio misturado com metafísica religiosa e superstição.
Isso não é uma questão de nova informação ou de mais informação.
Isso requer uma mudança de atitude.
Isso requer uma mudança da atenção que você presta à sua experiência no momento presente.
É claro que quando falamos da experiência consciente, estamos todos mais uma vez falando da morte, porque se a consciência só se manifesta dependente do cérebro, então a morte é real e toda religião já inventada até hoje é falsa, e não preciso dizer que tem muita gente andando por aí, com a intuição de que isso não é verdade, e que a consciência é, em certo sentido, independente do corpo.
Ora, existem boas e muitas razões para se duvidar dessa intuição, é claro.
Nós sabemos que a introspecção nos oferece uma visão muito pobre da base material da nossa vida interior.
Existem 100 bilhões de neurônios no cérebro.
Existem mais, cada um faz milhares de conexões com outras células. Existem mais conexões num único centímetro cúbico de tecido cerebral do que estrelas na nossa galáxia.   Apesar disso, nossa experiência interior não nos oferece absolutamente qualquer pista de que é assim que acontece.
Nós não estamos ligeiramente desconectados com a base material da nossa vida interior. Nós estamos completamente desconectados disso.
Eu mesmo penso bastante sobre o cérebro humano, e quase nunca me ocorre  que  também tenho cérebro!
Nós temos uma visão muito limitada daquilo que está acontecendo.
Subjetivamente, nós desconhecemos grande parte daquilo que a nossa mente faz.
Apesar disso, quando pensamos sobre o que é importante, o que importa é a consciência e o seu conteúdo.
A consciência é tudo.
Nossa experiência do mundo, a experiência daqueles de quem gostamos é uma questão da consciência e seu conteúdo.
Qualquer que seja a origem da consciência, a questão mais importante para nós é: como podemos verdadeiramente nos realizar na vida?
Como podemos criar uma vida que seja verdadeiramente digna de ser vivida, dado que essa vida chega ao fim?
Todos nós estamos nessa busca de realização e alívio do sofrimento.
Isso não quer dizer que nós queremos o mero prazer ou a vida mais fácil possível.
Muito daquilo que nós queremos na vida, muito daquilo que nós queremos experimentar, envolve esforço e muitos de nós aprendemos a usufruir desse esforço em alguma medida.
Todo atleta sabe que há certos tipos de dores que são realmente prazerosas.
Se a dor provocada pelo levantamento de peso fosse realmente um sintoma de uma doença, ela seria insuportável, mas como ela acontece no contexto de um exercício extenuante e de progresso também, muitas pessoas aprendem a usufruir disso.  A lente conceitual com a qual examinamos até mesmo uma sensação muito intensa em grande parte determina como nos sentimos a respeito dela.
Essa é uma das muitas maneiras que estamos pensando sobre a experiência.
Isso muda o caráter da experiência.
A moldura que nós colocamos ao redor do momento presente é importante e determina grande parte da nossa experiência com ele. Mas, parece que é de fato possível experimentar a vida mais livremente do que antes, experimentar a vida sem essa moldura aparente,  prestar atenção ao momento presente com bastante rigor, e não fazer nada contra isso.
Existem técnicas para fazer isso.
Eu quero fazer uma pequena experiência com vocês.
Por favor, fechem os olhos.  [29:38:00]

Sam Harris: A Morte e o Momento Presente

Transcrição do vídeo [29:41:00]

Talvez você queira ajeitar a postura para ficar mais confortável sentado.
Apenas sinta-se sentado, ocupando o seu lugar.
Faça algumas respirações profundas.
Agora deixe a gravidade fixar você ao assento.
Simplesmente deixe a respiração ir e vir naturalmente.
Tome consciência da sensação de estar sentado.
Sinta o peso do seu corpo.
Sinta o peso em seus braços e ombros.
Sinta as costas e as pernas em contato com o assento.
Agora observe o seu corpo, não importa a sua impressão, não importa as sensações que você notar, sensações de pressão, vibração, calor, tensão, dor, etc., o que surgir.
Tente sentir essas sensações tanto quanto possível.
Agora, pouco a pouco, vá percebendo a sensação da respiração, seja onde for que você a sinta, seja na ponta do nariz, enchendo o peito de ar ou esvaziando, com o abdome subindo ou descendo.
Apenas preste atenção às sensações relacionadas com cada inspiração e cada expiração.
Você não precisa controlar a respiração, apenas deixe-a ir e vir.
Veja se você consegue sentir a próxima inspiração a partir do momento em que ela surge, indo até o momento em que ela cessa. Faça o mesmo com as expirações.
Ouça os sons nesta sala.
Apenas deixe a sua mente agora ser um espaço aberto, no qual os sons e as sensações surgem.
Não é preciso um esforço heróico para se concentrar.
Apenas observe o que você percebe.
Observe que tudo que você percebe surge espontaneamente.
Não é preciso ir em direção a isso.
Apenas relaxe e perceba a próxima sensação, o próximo som.
Agora  veja se você consegue prestar mais atenção ainda. Existe uma camada de conceitos neste momento que você pode apoiar.
Por um instante, sinta a sensação das suas mãos.
Se você prestar atenção realmente, você verá que, de fato, você não sente o contorno delas.
Você possui uma imagem mental das mãos, mas quando você presta mais atenção, você sente apenas uma sensação natural de formigamento, vibração, pressão, uma nuvem muito mais difusa de sensações.
Veja se você consegue sentir as mãos o suficiente para renunciar à ideia de  contorno.
Faça o mesmo com o resto do corpo.
Veja se você consegue simplesmente deixá-lo dissolver-se numa nuvem de sensação.
Apenas seja o espaço em que cada sensação nova e natural surge.
Sinta a sensação do seu rosto e da sua cabeça.
Pode ser que você sinta que a sua consciência está dentro da cabeça ou atrás do rosto, mas em termos de experiência, será que são apenas mais sensações surgindo na consciência?
O único indício do seu rosto e da sua cabeça é uma sensação que surge na consciência neste momento.
Observe em que tipo de humor você está.
Se você está inquieto ou entediado.
Considere essa própria constelação de energia como um objeto de consciência.
Você sente esses estados de espírito, independente de como eles aparecem no corpo.
Se você está com sono, perceba essa sensação, se ela é um padrão de sensibilidade do rosto e dos olhos.
Os sons, as sensações e os sentimentos estão apenas anunciando esse espaço aberto de consciência.
Você pode notar que à medida que você tenta prestar atenção à sensação natural, os pensamentos interferem continuamente.
Você se descobre pensando, sem saber que está pensando.
No momento em que você percebe isso, no momento que você percebe esse pensamento na mente, tome isso como um objeto de consciência.
Apenas observe se ele é uma imagem visual com linguagem própria e depois volte-se para as sensações e para os sons.
Vamos fazer isso por mais alguns momentos. Por isso permita-se começar de novo como se fosse a primeira vez.
Será que você consegue sentir a próxima respiração?
Ok, agora você pode abrir os olhos.
É fácil você sentir, quando abre os olhos, que algo mudou de maneira fundamental.
Um momento atrás, você parecia estar dentro da sua cabeça, se concentrando na sua experiência interior, mas agora você abre os olhos e você está no mundo novamente, mas nada mudou de maneira fundamental.
O mundo que você vê com os seus olhos está no mesmo lugar que você estava com os olhos fechados.
Ele é. Isso é consciência.
Eu não estou dizendo que o mundo é irreal.
Mas, em termos de experiência, é mais correto dizer que eu e todos aqui existimos na sua consciência, que, então a nossa consciência existe nesta sala, em termos de experiência.
Eis uma maneira de conseguir enxergar: apenas visualize um diamante deste tamanho entre as minhas duas mãos.
Ele está projetado aqui
Dependendo do seu poder de visualização, eu devo parecer ser muito, muito rico.
Mesmo se você for ruim nisso, você provavelmente consegue projetar alguma coisa.
Alguma coisa muda quando eu peço a você para fazer isso.
Substitua-o por um tomate.
Quem consegue, pode levantar a mão?
Quantas pessoas substituem algo como uma impressão visual, ao projetá-la aqui?
Quantos de vocês não têm absolutamente nenhuma ideia do que estou falando?
Eu estou no seu cérebro agora.
Todos aqui estão no seu cérebro.
Eu estou beliscando o seu cérebro.
É a consciência beliscando a consciência.
Tudo que você talvez possa perceber no seu corpo, na sua mente e no mundo só tem um lugar para aparecer: dentro da sua experiência consciente.
Eu não estou dizendo que tudo isso é apenas um sonho.
Mas, em termos neurológicos, é muito parecido com o sonho. É um sonho  condicionado pela entrada de estímulos do mundo externo. E os sonhos que nós chamamos de sonhos noturnos são sonhos que não são condicionados pelo mundo externo.
É por isso que você parece conseguir realizar tudo.
Mas a mente é tudo o que você tem.
É tudo o que você sempre teve.
É tudo o que você tem para oferecer às outras pessoas.
Pode parecer cruel dizer isso. Talvez existam muitos outros aspectos da sua vida que parecem necessitar de serem abordados, quando você está tentando, lutando para encontrar uma carreira, ou quando você está doente, mas ainda continua sendo verdade.
Se você está permanentemente com raiva, deprimido, confuso, mal amado, não importa quão bem sucedido você seja ou quem faz parte da sua vida, você não vai desfrutar de nada disso.
Eu desconfio que todos vocês fazem uma lista de coisas que vocês querem realizar, de coisas que precisam realmente ser modificadas em suas vidas.
Qual é o significado de tudo isso nessa lista?
Cada coisa nessa lista parece prometer que só quando você consegue realizá-la, você tem motivo para simplesmente ser feliz no momento presente.
Todos nós estamos tentando encontrar um caminho de volta para o momento presente e um motivo bom o suficiente para simplesmente ser feliz aqui.
A prática da meditação que eu acabei de demonstrar para vocês é a ″meditação da atenção plena″.  Ela é apenas um artifício para se fazer isso.
É um artifício para você deixar de lado a sua lista de coisas para fazer, ao menos, por alguns momentos, e de fato identificar o sentimento de realização no presente.
Mais uma vez, eu não estou dizendo que tudo na sua lista é um absurdo ou que não vale a pena realizar.
Quanto de insatisfação com o presente você precisa ter para preparar um futuro satisfatório?
Quanto de neurose você precisa ter?
Quanto de infelicidade você precisa ter?
Quanto de estresse você precisa sentir?
Quanto de desagrado você precisa ter para que outras pessoas existam?
Ora, se você fica constantemente ruminando sobre o que você acabou de fazer ou que deveria ter feito ou que teria feito se ao menos você tivesse uma chance, você deixa de viver a sua vida.
Você não consegue se conectar com ela, você não consegue se conectar com outras pessoas.
Quando outras pessoas conversam, você fica esperando elas calarem a boca para você poder dizer o que está pensando em dizer.
Mesmo quando você não tem a oportunidade de falar num momento como esse, quando você só precisa ouvir, a conversa como automaticidade continua, você tem uma voz dentro da sua cabeça que fica dizendo coisas.
Você ainda não percebeu?
A conversa que temos conosco mesmos a cada minuto do dia, ela tem um custo.
Eu não estou dizendo que o pensamento discursivo não é necessário nem útil, mas ele é o mecanismo pelo qual grande parte do nosso sofrimento nos é infligido: a tristeza, a insegurança, a ansiedade e o medo, e também o medo da morte.
Ficar pensando é útil, mas ficar permanentemente perdido em pensamentos não é.
Ser mero refém do próximo pensamento que chega invadindo a consciência não é útil.
Se existe um antídoto para o medo da morte e para a experiência da perda, que seja compatível com a razão, eu acho que ele tem que ser descoberto aqui.
O propósito da vida é bastante óbvio.
Estamos constantemente ...
Por que será que nós criamos cultura e constituímos relacionamentos, além das questões de mera sobrevivência?
Nós estamos constantemente tentando criar e reparar um mundo em que as nossas mentes querem estar.
E sobretudo nós, exclusivamente, dentre toda a humanidade que seja, nós já percebemos que a religião é uma maneira ruim de fazer isso.
Então nós temos que começar uma nova conversa.
Muito obrigado.
Obrigado.  [44:13:00]

Material selecionado pelo irmão Roberto C. Paula para estudo em Loja realizado em 25.08.15 e 08.09.15.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.